quinta-feira, 28 de março de 2013

LONDRINENSE AJUDOU A DESENVOLVER O OLHO BIÔNICO


Olho biônico teve participação de médico londrinense
Rafael Fantin - Redação Bonde
Após mais de 10 anos de pesquisa nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) aprovou no mês passado, a prótese intraocular, mais conhecida como olho biônico, projeto que teve a participação do médico londrinese Gildo Fujii. 

Por meio de um sistema eletrônico, os pacientes com retinose pigmentar avançada podem voltar a reconhecer objetos e formas. A doença degenerativa causa cegueira de pessoas entre 20 e 50 anos. Assim, a criança nasce com visão, mas vai perdendo o sentido até a fase adulta, o que provoca uma grande frustração no paciente. "É uma doença muito cruel do ponto de vista da qualidade de vida, pois a pessoa nasce enxergando. É diferente de uma criança que nasce sem visão, aprende a viver e é feliz sem enxergar", comentou o médico, que é filho do oftalmologista Yoshihiro Fujii. 

Gildo foi o primeiro médico brasileiro a participar do projeto norte americano. Ele lembra que conheceu professores do Hospital Jonhs Hopkins, de Baltimore (EUA), em congresso realizado, em 1999, durante especialização na Universidade Federal do Paraná (UFPR). 

Em seguida, Fujii foi para os EUA, onde ficaria em estágio por seis meses no projeto do olho biônico, idealizado pelo médico Mark Humayun. "Quando eu cheguei, a prótese estava em uma fase inicial. O primeiro contato foi bem positivo e eles tiveram interesse em estender a minha permanência. Assim, o que era para ser apenas um estágio se tornou em uma especialização em retina", recordou. "O meu trabalho era desenvolver a técnica para implantação da prótese e experimentar em animais, antes das cirurgias em seres humanos", acrescentou. 

Durante sete anos nos EUA, Fujii dividiu o tempo entre pesquisas e estudos do curso de pós-graduação. Além do olho biônico, o médico de Londrina também participou do desenvolvimento da técnica de cirurgia vitrectomia, utilizada no mundo inteiro em cirurgias de retina sem a necessidade de pontos. 

Em 2001 foi realizada a primeira cirurgia em seres humanos após a equipe comprovar que a intervenção era segura. O paciente foi um senhor de idade que não enxergava há mais de 50 anos. De acordo com Fujii, o homem não tinha expectativa de voltar a enxergar, mas queria contribuir com os avanços científicos. "A gente tinha a preocupação que ele não iria enxergar, mas o paciente foi selecionado porque ele era muito generoso. Ele falava que não tinha expectativa de benefícios com a prótese, no entanto, ele queria ajudar pensando no bem das próximas gerações", lembrou. 

Fujii recorda que a equipe realizou a cirurgia em Los Angeles após ser contratada pela Universidade do Sul da Califórnia (USC). "O resultado foi acima das expectativas do ponto de vista técnico e funcional. A técnica cirúrgica foi um sucesso sem complicações para o olho do paciente, que passou a reconhecer formas, letras grandes e objetos. Na verdade, a percepção é muito diferente. O paciente vê uma imagem eletrônica", avaliou. O oftalmologista informou que no início a prótese era maior e tinha 16 pontos de resolução. Com o avanço da pesquisa, o equipamento ficou menor com 60 pontos de estimulação

Até aprovação do projeto no início de 2013, cerca de 30 cirurgias foram realizadas nos Estados Unidos. Uma das principais preocupações da FDA era se o pulso eletrônico poderia causar danos na retina em longo prazo, o que foi descartado durante a pesquisa. A energia é gerada por meio de sinal de rádio sem utilização de fios. "Aprovação foi uma luta, pois a FDA é muito exigente no controle de qualidade e no resultado. Essa prótese trata, inicialmente, de um número relativamente pequeno de pacientes", explicou. 

Tratamento custa 100 mil dólares 

O oftalmologista Gildo Fujii ressaltou que é importante conter a expectativa de pacientes de cegos, que não se qualificam para a cirurgia já que a prótese é voltada para as pessoas com retinose pigmentar em fase avançada com pouca ou sem percepção a luz. "Infelizmente, a prótese não atende todos os pacientes. Quem perdeu a visão por outros motivos como glaucoma, descolamento de retina, trauma ocular ainda não serão beneficiados por esse tipo de tecnologia", esclareceu. 

Nos Estados Unidos e na Europa, o tratamento custa aproximadamente US$ 100 mil. Além da prótese, o paciente passa por uma fisioterapia ocular e treinamento com duração de um ano para utilização do aparelho, que é programado para cada paciente atendido pelo sistema. No Brasil, a nova tecnologia ainda precisa ser aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Essa experiência mudou a minha vida como profissional. Para toda doença pesquisada existe uma forma de tratamento. Por isso, os pacientes nunca devem perder a esperança", aconselhou Fujii. 

Como funciona 



A câmera fotográfica, instalada em óculos, transforma o que é captado em sinais elétricos que estimulam parte da retina em funcionamento por meio de uma placa implantada na cirurgia. A partir deste momento, a imagem segue o curso natural do nervoso ótico até o cérebro. Assim, o paciente volta a ter a percepção luminosa novamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário