JORNAL DE LONDRINA
Marcelo Frazão
Grupo terminou a manifestação em frente ao prédio da Prefeitura e da Câmara de Londrina
Londrinenses voltam às ruas
Aproximadamente 2 mil pessoas participaram de manifestação que pediu passe livre na cidade; protesto teve pichação da Câmara
Marcelo Frazão
Depois de levar milhares às ruas de Londrina na segunda-feira, os movimentos de contestação ontem colocaram a cidade, mais um dia, no mapa da indignação popular – e sem timidez. No Brasil, em todos os cantos, mais de um milhão de pessoas foram às ruas.
Após se encontrarem no calçadão no fim da tarde de ontem, cerca de 2 mil pessoas marcharam pacificamente pela Avenida Duque de Caxias até o Centro Cívico, onde ficam Prefeitura de Londrina, Câmara de Vereadores e Fórum. Agentes da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) organizavam o trânsito com desvios para evitar problemas ainda maiores para quem voltava do fim do expediente.
Na multidão, a maioria era de estudantes em defesa do Movimento Passe Livre (MPL) – que pressiona pelo transporte público totalmente gratuito. Apesar do alvo definido, todas as reivindicações voltaram a dominar a “pauta” da rua. “Estou aqui pelo passe livre e pelo que a gente tem que corrigir em Londrina e no país”, explicava, sem titubear, a estudante Laiz Góis, 16, antes de rabiscar um cartaz com palavras de ordem.
“Ônibus cheio não dá mais”
Em plena Avenida Duque de Caxias tomada por palavras de ordem e gritos de protesto, o almoxarife Iverson Pereira, 39, estava no ponto de ônibus à espera da linha para voltar para casa no distrito de Paiquerê, zona rural sul de Londrina. “Não é mole ficar uma hora e meia em pé dentro de um ônibus lotado para chegar em casa. Ninguém pode ser obrigado a aguentar isso todo dia”, afirmou. “Hoje não tenho pressa nem me aborreço. Tem que ajudar a gente a mudar isso mesmo”, apoiava, emocionado com a turba que passava barulhenta, engolindo a conversa com a reportagem e chamando a atenção dos moradores dos prédios pelo caminho.
Morte de estudante completa 10 anos
Com força, a assistente social Ana Rosisca, 23, uma das dezenas de pessoas na organização da multidão de ontem, resume o movimento que parece não querer mais cessar. “Tem um pouco de tudo. Por mais qualidade no nosso transporte público, por uma tarifa menor e pelo fim da criminalização de quem é pobre no país. Também viemos marcar os 10 anos da morte do Anderson Maurilio, para lembrar sempre Londrina da impunidade naquele episódio”, disse. “Até hoje, os responsáveis pelo episódio da morte do Anderson estão por aí”, afirmou, citando funcionários da CMTU e o atual secretário de Defesa Social, Rubens Guimarães - em 2003, ele era o comandante da PM. Em 13 de junho daquele ano, em um protesto dentro do Terminal contra o aumento dos preços da passagem, Guimarães orientou os coletivos a deixarem o local – e um dos ônibus atropelou o rapaz. Anderson teria hoje 31 anos.
Várias vozes
Como em todo o país, os gritos eram variados. Um dos manifestantes tentava resumir no que escrevera à mão: “Minha lista de protestos nem cabe no meu cartaz”. Pela saúde, por mais educação, contra Copa, por mais amor. Valia tudo.
Passava das 20h e a turba rumava ao Centro Cívico empolgada quando uma pequena parte dos manifestantes, já na Avenida Duque de Caxias, foi surpreendida por batedores da Polícia Militar (PM) – que não acompanhavam a manifestação. Rapidamente, quatro motos bloquearam o trânsito em um dos cruzamentos, já controlados pela CMTU, para a passagem da comitiva oficial do governador Beto Richa. Foi tudo tão rápido que quando os manifestantes foram informados pelo megafone e vaiaram maciçamente, a comitiva já estava distante. A maioria nem percebeu.
“Dez dias atrás eu discutia os problemas do país com uns amigos na aula. Mas ninguém imaginava que se tornaria tudo isso. Agora todos têm a chance de colocar a opinião para fora”, argumentava Franciele Silva, 16, do 2º ano de um colégio estadual. “Os R$ 0,20 foram só um impulso”, completou a amiga Digiane Cristina, 16.
Entre estudantes, trabalhadores, anarquistas, punks e pais e mães com crianças, o aposentado Antonio Lima, 66, seguia firme a manifestação. “Isso aqui demorou. Tenho duas filhas que trabalham em um hospital público de Londrina e é só improviso. Uma calamidade”, argumentava. “Elas estão lá no hospital agora e eu estou aqui por elas porque isso tem que melhorar.”
Perto das 21h, o protesto coletivo se encerrou no Centro Cívico, onde Prefeitura, Câmara e Fórum já estavam fechados, vazios e com luzes apagadas. Entre os vários discursos em nome de dezenas de causas, o tema mais latente foi a presença de bandeiras de partidos políticos de esquerda. Antes do fim, pichadores grafaram no muro da Câmara de Vereadores um enorme “Fora Corrupção”, mas foram convencidos pelos próprios presentes a parar.
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