quarta-feira, 29 de junho de 2016

O renascimento de um museu ( Bela Vista do Paraíso - Pr. )

PATRIMÔNIO HISTÓRICO - 

Projeto de Educação Patrimonial com adolescentes recupera parte do acervo de museu desativado de Bela Vista do Paraíso

Fotos: Anderson Coelho
Com a ajuda dos pesquisadores, uma equipe de 45 adolescentes está pondo a mão na massa para recuperar documentos que serão catalogados e armazenados adequadamente
 
A pesquisadora Leilane Lima e o professor João Davi Avelar: trabalho árduo para a recuperação do Museu de Bela Vista do Paraíso

Desde o início deste ano, alunos de várias escolas da cidade de Bela Vista do Paraíso estão engajados em uma missão: evitar a perda total do acervo do Museu Municipal Gecy Fonseca e reativar o local. Cerca de 45 adolescentes estão colocando a mão na massa, ou melhor, nos documentos, fotos e objetos para recuperar parte do acervo que restou depois do desabamento do prédio em que estava localizado junto com a Biblioteca e o Teatro Municipal. Em um projeto de Educação Patrimonial foram envolvidos diretores, professores e alunos dos Colégios Estaduais Jayme Canet e Brasílio de Araújo e do Sagrado Coração, da rede particular. Os alunos se revezam em turnos no período vespertino para realizarem as atividades com acompanhamento de técnicos do Museu Histórico de Londrina. 

O projeto se fez imprescindível quando a pós-doutoranda do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, Leilane Lima, que pesquisa 44 museus do Oeste de São Paulo e Norte do Paraná, chegou ao momento de visitação técnica. "O Guia Brasileiro de Museus de 2011 indicava que o museu de Bela Vista estava ativo. No entanto, ao tentar agendar a visita, os servidores municipais não sabiam onde e qual era a situação do museu. Com auxílio do professor de História do município, João Davi Avelar Pires, consegui confirmar que as três instituições foram desativadas depois da queda do telhado do prédio, em 2009, e o acervo e material que não foi danificado haviam sido armazenados", relata. Informações históricas sobre a instituição indicam que suas atividades iniciaram-se no ano de 2005, no prédio construído na década de 1960. 

Porém, a pergunta crucial que ninguém sabia responder era onde estava guardado o acervo. "Ficamos sabendo que estava em uma das salas do Centro de Convivência de Idosos do município. Depois de muitos entraves, conseguimos chegar ao local em que o acervo estava depositado. Infelizmente, encontramos objetos e documentos históricos amontoados misturados a muito sujeira, umidade e insetos, ou seja, um local abandonado onde não havia condições mínimas de armazenamento. Diante dessa situação, tornava-se urgente uma providência a fim de conservar o que ainda restava." O levantamento inicial indicava que o acervo era composto por objetos relacionados à Arqueologia, Ciência e Tecnologia, História, Imagem e Som, com destaque às fotografias e os documentos escritos, que narravam parte da história da cidade. 

Sem estrutura, recurso financeiro ou humano por parte da Divisão de Cultura a solução encontrada foi pedir apoio e auxílio técnico ao Museu Histórico de Londrina para que, junto com a comunidade local, houvesse uma intervenção coletiva para organização e adequação do espaço, higienização das peças e documentos e acondicionamento correto. "Como o acervo documental e histórico (documentos, fotografias, jornais, recortes e publicações) encontrava-se em situação mais crítica de conservação, começamos por ele. Os documentos foram retirados das pastas, higienizados, enumerados, catalogados e acondicionados adequadamente, além do armazenamento digital", enumera. O procedimento foi repassada aos alunos, de forma que tudo corresse dentro das normas técnicas. A etapa que está iniciando contemplará os objetos, entre eles arqueológicos, antropológicos e etnográficos, e artes visuais, como pinturas, gravuras e ilustrações. Tudo pode ser acompanhado pela página no Facebook "Projeto UEL/ Reativação do Museu Gecy Fonseca". 

Com a mobilização e engajamento voluntário de várias frentes da comunidade, a prefeitura viabilizou um espaço junto ao novo prédio da Secretaria de Esporte e Lazer, que abrigará parte do acervo a ser exposto quando finalizada a recuperação. "O projeto se mostrou muito além da preservação do acervo, ativou a concepção e importância da existência de museu na comunidade, pois estamos resgatando a memória social e coletiva. Cuidando da história do município, os alunos estão preservando a própria história; é uma questão de identidade. Isso se fortalece quando eles passam a se reconhecer nas fotos, por meio dos familiares mais antigos. Tudo é um processo educacional bem amplo, que envolve sentimento e pertencimento. Participar ativamente desse processo faz com que os jovens criem um vínculo com o patrimônio e passem a dar mais valor a ele, ao mesmo tempo em que tornam-se pessoas mais críticas", diz o professor João Davi Avelar Pires. 

Recentemente, a pesquisadora apresentou e publicou o artigo "Os restos de um museu que não "morreu": O caso do Museu Municipal Gecy Fonseca, Bela Vista do Paraíso/PR", no "Seminário Internacional em Memória Social", promovido pela Unirio.
Marian Trigueiros
Reportagem Local

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