Agricultor faz "milagre"com água da chuva
Enviado em segunda-feira, 6/06/2016
Sistema Fog mantém tempratura interna das estufas no nível ideal para cada tipo de cultivo
Além de quase 10 mil caixas anuais de hortaliças, o Sítio Harmonia, no bairro Caetezal de Cima, produz também milhões de litros de água. O sistema se baseia no reaproveitamento de toda a chuva que cai sobre as estufas da propriedade. O executivo paulistano aposentado Claudemir Lepre, idealizador do projeto, conta que além de reduzir significativamente a captação dos mananciais da propriedade para irrigar suas plantações, ainda consegue reforçar o volume do lençol freático da região. “Depois que implantamos a técnica, surgiram duas novas nascentes e o ribeirão que atravessa um trecho do terreno está muito mais caudaloso”, comemorou.
Para contar como a propriedade dos Lepre se transformou em referência regional em sustentabilidade, é preciso retroceder um pouco no tempo. Para começar, vale destacar que planejamento e tecnologia são os ingredientes que diferenciam a trajetória da família da história de tantos outros paulistanos que decidem trocar a vida agitada da cidade grande pela tranquilidade saudável do campo. Logo após a aposentadoria, seis anos atrás, a ideia de Claudemir era adquirir um sítio em Piedade, para usá-lo como área de lazer e, quando muito, abrigar uma pequena produção para custeio do próprio local.
“Esse era o Plano A”, revela o ex-executivo, explicando que precisou repensar quando o complemento da pensão recebida do INSS com a remuneração da previdência privada – palo que tivera o cuidado de pagar anos a fio – começou a demorar muito mais do que estava previsto.
O Plano B incluía a transformação do sítio em empreendimento rural de alta produtividade. Foi aí que entrou em cena, além da experiência adquirida em uma longa carreira de sucesso em multinacionais, o apoio da esposa, Simeire, e do casal de filhos, Priscila e Thiago, “todos entusiasmados com agricultura”, se gaba o novo piedadense, feliz com os resultados do próprio esforço.
Segredo é planejar
Antes de botar as mãos na terra, ele fez o que poucos lavradores tradicionais fazem: pesquisou. “Estudei os produtos com mercado menos sensíveis à sazonalidade, verifiquei os sistemas mais produtivos e conheci as técnicas que reduzem os riscos de falhas e, logicamente, deixam os prejuízos o mais longe possível”, detalha Claudemir. O resultado de toda essa investigação apontou para o cultivo protegido do tomate italiano Aguamiel, pimentão vermelho, pepino japonês, vagem e morango Monterrey, entre outros.
Com relação ao manejo, é claro que o empresário rural optou pelas técnicas que garantem maior nível de controle e evitam desperdícios. A lista inclui desde rotação de culturas e profilaxia preventiva, até fertirrigação por gotejamento e controle de temperatura interna das estufas. Este último item agrega tecnologia de última geração, como o sistema inteligente que aciona microaspersores do tipo Fog para criar névoa artificial cada vez que os termômetros atingem o limite pré-estabelecidos para cada tipo de produto.
Plantando água
Em meio a toda a sofisticação tecnológica implantada nas suas estufas, a menina dos olhos da família Lepre ainda é a reciclagem da água da chuva. Entusiasmado com os efeitos positivos do processo inovador, Claudemir faz questão de detalhar o funcionamento. Tudo começa com a coleta da chuva nas calhas instaladas nas bordas das coberturas. A gravidade se encarrega de levar toda a água, por meio de tubos de PVC de quatro polegadas, até um tanque com capacidade para acumular 1,5 milhão de litros.
Desse reservatório, o líquido pode seguir dois caminhos, dependendo da necessidade. Uma opção é o bombeamento direto para os reservatórios auxiliares que abastecem o sistema de irrigação das estufas. A alternativa, razão do entusiasmo de Claudemir, é a infiltração da água no solo que fica acima das nascentes e de um ribeirão. “O resultado foi imediato e a olhos vistos”, exulta o agricultor, explicando que o líquido que penetra na terra vai parar nos reservatórios subterrâneos e, daí vai para nos olhos-d’água e até nos cursos de superfície, como é o caso do ribeirão que banha o terreno.
Num cálculo rápido que Claudemir faz de cabeça para exemplificar o potencial do sistema de reciclagem enquanto mostra as instalações à reportagem, a estimativa é de que cada metro quadrado de estufa é suficiente para garantir o armazenamento de dezenas de litros por dia. “Só depende do volume de chuva”, demonstrou.
No caso do Sítio Harmonia, com seus 8.300 metros quadrados de canteiros fechados, a chuva da última quinta-feira (2), calculada em 55 milímetros até o final da tarde, carreou para o reservatório cerca de 400 mil litros de água. Levando em conta que o sistema de irrigação por gotejamento de todas as estufas de Claudemir consome, em média, 10 mil litros por dia, o volume reciclado em menos de 24 horas é suficiente para suprir todas as necessidades hídricas durante mais de um mês. “É o homem abastecendo a natureza”, filosofa o produtor rural.
Custo / Benefício
Segundo Claudemir, o investimento para implantação do sistema de reciclagem de água só traz benefícios e, melhor ainda, se paga em pouco tempo. Citando o seu próprio exemplo, o empreendedor conta que o gasto de R$ 50 mil, consolidado há dois anos, já pode ser contabilizado na coluna de custos amortizados.
O agricultor ressalta, no entanto, que as vantagens do aproveitamento da chuva não se restringem às finanças. Na opinião dele, o meio ambiente é o maior beneficiado. “A captação evita questões tão comuns como erosão, formação de valetas, perda da camada fértil do solo e inundações, além, do óbvio, que é a exploração de outras fontes ”, citou.
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