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"Todo mundo falava para eu desistir, mas eu tinha um sonho, e algo lá dentro de mim me dizia para confiar e persistir. Hoje eu faço tudo o que amo".
Por Maria Fernanda Maleski
Já dizia a escritora Clarice Lispector: "Sonhe com o que você quiser. Vá para onde você queira ir. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades
para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz". Assim é a caminhada do boiadeiro Adriano Rodrigues Fernandes, o conhecido Burrinho, de Sabáudia, no Paraná. Uma caminhada doce, forte, humana, feliz.
para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz". Assim é a caminhada do boiadeiro Adriano Rodrigues Fernandes, o conhecido Burrinho, de Sabáudia, no Paraná. Uma caminhada doce, forte, humana, feliz.
São 27 anos de amor ao rodeio e oito como Professional Bull Rider. O sonho de moleque o manteve firme no caminho e as dificuldades o fizeram ser o hoje renomado Burrinho de Sabáudia, com quatro motos e cerca de R$ 150 mil no currículo de cowboy. Parafraseando ainda outra personalidade, desta vez do rodeio, o comentarista Oskar Roberto sempre diz: "o apelido dele é Burrinho, mas de burro ele não tem nada".
O sonho de ser peão nasceu no coração deste boiadeiro quando ele ainda era criança. "Eu fui criado em fazenda, sempre mexendo com cavalo e ajudando meu pai na criação. Eu não sabia o que era um rodeio. Com oito anos de idade meu pai me levou no meu primeiro rodeio, eu vi os peões montando em bois e cavalos e naquele exato momento eu soube o que eu queria ser quando crescesse. Eu queria ser um peão de rodeio", conta Burrinho.
Foram 11 anos cultivando o desejo de um dia ser um cowboy. Nesse entremeio, entre o sonho e a realidade, Burrinho passou pelo desdenho, descrença e depreciação de muitos, até mesmo da própria família. "Eu vim de família pobre e minha mãe sempre falava para mim que era ruim eu ser peão e, por causa da nossa situação financeira, eles não poderiam me ajudar. Muita gente me disse para desistir mas algo dentro de mim me dizia para confiar e persistir, porque quando é para ser, é. Sempre tive a cabeça boa, sempre corri atrás dos meus sonhos e hoje faço tudo o que amo", revela.
O COMEÇO DA JORNADA
Com oito anos de estrada, Burrinho teve um começo difícil. "No começo foi muito difícil para mim, até eu me encaixar no rodeio. Já na primeira montaria que fiz na vida eu parei. Comecei a ir em treinos e bolões e muitos me incentivavam, dizendo que eu tinha que investir na carreira porque tinha futuro. Daí eu conheci o Bozo, que também já foi peão, e ele me ajudou a ir para os rodeios. Morei um tempo com ele, ele me ensinou a trabalhar com couro e me ensinou muitas outras coisas. Sou muito grato à tudo que ele fez por mim", relembra.
O PRIMEIRO RODEIO A GENTE NUNCA ESQUECE
O primeiro rodeio do Burrinho, obviamente, ficou marcado na memória. Mas de uma forma diferente de muitos outros competidores. Porque de lá, Burrinho saiu campeão. "Até hoje lembro que no primeiro rodeio que participei, na cidade de Bela Vista do Cambira. Saí campeão e ganhei R$ 400. Aquilo para mim foi como se fosse um carro, um prêmio grande", conta, entre risos.
AS DIFICULDADES
Burrinho confessa que já chegou a pensar em desistir, mas com o apoio do amigo Bozo, ele tomou a decisão certa. "Continuei a ir nos rodeios e comecei a me machucar muito. Me lembro de ter saído da arena desmaiado, carregado de maca, oito vezes. Tenho quatro fraturas e já perdi as contas das vezes que me machuquei. Muita gente falava para eu parar, que eu ia morrer. Lembro como se fosse hoje que uma vez montei lá na minha cidade e o povo falou muito mal de mim, que eu não virava nada. Mas eu nunca montei para fazer bonito para os outros, eu monto porque gosto. E em uma certa altura, pensei em desistir. Foi o Bozo que me incentivou, dizendo que eu tinha que ir atrás do meu sonho, que um dia eu ia conseguir tudo o que sempre quis. A ideia nunca mais me passou pela cabeça depois dessa conversa", declara.
Dentre todos os percalços encontrados no caminho, Burrinho fala que o pior de tudo é a humilhação. "Minha maior dificuldade no rodeio, sem dúvida, foi a humilhação que já passei. Fome, de verdade, nunca cheguei a passar, mas já passei muito frio. Quando comecei a montar, eu ia para os rodeios de ônibus. Às vezes andava 500 quilômetros, chegava no rodeio, caia, ia embora machucado, de ônibus, rodando com bolsa de traia, colchão, roupas. Foi a parte mais difícil que passei nessa vida".
A VOLTA POR CIMA
Em 2007, Burrinho foi campeão em um rodeio, na cidade de Cruzmaltina. Da arena, ele saiu com o título e com o tão almejado apoio da família. De lá para cá, Burrinho passou a somar as vitórias. "O prêmio desse rodeio era uma moto, foi a primeira da minha vida, mas meu prêmio maior foi o apoio que ganhei da minha família depois daquele dia. Acho que minha mãe não me apoiava mais porque tinha medo que eu me machucasse. Esse rodeio foi um marco na minha história. Dali por diante comecei a entrar em finais, me encaixar melhor nos rodeios, passei a ser reconhecido. Ligava para as comissões de festa e falava: 'aqui é o Burrinho, de Sabáudia, quero um convite para montar no rodeio', e conseguia. Me senti mais realizado, isso me incentivou mais".
Hoje, Burrinho é um dos mais renomados peões da atualidade no rodeio paranaense. Ele tem atualmente um patrocínio da marca Triwial, empresa inovadora no ramo de confecções, da cidade de Apucarana, no Paraná.
O CPR
Burrinho é um dos competidores que faz parte do time do Campeonato Paranaense de Rodeio, o CPR. O campeonato preza a valorização dos profissionais paranaenses e tem como objetivo mostrar ao país o supra sumo do rodeio brasileiro. "Quando eu conheci o Giovany, comecei a ligar para ele, para ele me arrumar um convite para os rodeios onde ele narrava. Eu ligava, ligava e ele não me arrumava. Até que, em 2011, eu fui campeão na minha cidade. Saí de dentro da arena aplaudido de pé por todos que estavam assistindo as montarias. O Giovany começou a me perceber depois desse rodeio. Duas semanas depois liguei para ele pedindo outro convite, ele me ajeitou e eu fui campeão desse rodeio, na cidade de Ourizona. Hoje eu ligo para ele, e todos os rodeios que ele faz, ele não me deixa de fora. Ele sempre fala para mim que é meu fã e eu fico muito orgulhoso com isso", esclarece.
Burrinho fala ainda da expectativa para o campeonato. "Já passei bem perto mas nunca ganhei um carro. Aqui no CPR, depende de Deus, mas a vontade de chegar na final e levar o carro para casa é grande", considera.
E O MEDO?
Quando questionado sobre os touros que participam do CPR, e sobre o medo de montar, Burrinho é enfático: "Não tenho medo de touro, enquanto estou no chão eu respeito eles, mas depois que eu estou em cima, aí é só eu, ele e Deus. Tenho cuidado, porque alguns touros são mais difíceis de ser montados do que outros, mas em algumas situações, esses que achamos ser mais difíceis, são os que nos dão os melhores resultados. Sempre torço para pegar um boi bom, mas nem tudo que é bonito é flores. O bom mesmo é aquele que Deus me permite montar. O mais importante de tudo é voltar para casa com saúde e estar de pé no outro dia para contar a história".
BURRINHO: O POETA DAS MULTIDÕES
Durante a entrevista, Burrinho revelou um lado ainda desconhecido, talvez por muitos. Ele falou de sonhos, da realização deles, e mostrou que na vida dele a máxima "quem espera sempre alcança" é uma verdade. "O rodeio não é só montar em boi e ganhar prêmio, o rodeio é uma forma de fazer amizades também, de aprender a respeitar os outros. O rodeio ensina muita coisa para gente, tem o lado bom e o ruim. Se a gente seguir sempre pelo lado bom, a gente aprende muita coisa".
"Não só no rodeio, em tudo na vida, quando a gente tem um sonho, um objetivo, a gente tem que ir buscar, porque dificuldades e barreiras na vida a gente sempre vai encontrar. A vida da gente é vivida por partes, se quer chegar no objetivo tem que caminhar bastante, tem que correr atrás. Sempre vai ter os altos e baixos e a gente precisa sempre estar em cima. Talvez a gente não consiga tudo o que quer na vida, mas se correr atrás, um pouquinho a gente consegue. E eu acho que o que faz a gente ser feliz na vida é isso aí. E eu posso garantir, eu sou feliz, e muito".
MAIS UM SONHO REALIZADO
Burrinho já teve outros trabalhos fora das arenas, mas hoje ele tem a sua selaria e conta que esse também era um sonho. "Sempre quis fazer selas e trabalhar com couro, achava lindo isso. Aí um dia eu vi o Bozo, que também já montou em boi, fazendo sela. Pedi para ele para ele me ensinar a trabalhar com couro e, em troca, eu trabalharia para ele. Ele aceitou, me ensinou tudo o que eu sei, morei com ele e ele me ajudou até a ir para os rodeios. Depois de muito tempo e muito esforço, consegui montar minha selaria e hoje eu faço selas por encomenda e entrego traias em lojas. É mais um sonho que eu lutei e consegui realizar", esclarece.
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