terça-feira, 4 de setembro de 2018

MUSEU NACIONAL ( BRASIL SEM MEMÓRIA )

FOLHA DE LONDRINA

DESCASO

Museu incendiado num país sem memória
Para produtores culturais, o incêndio no Museu Nacional, no Rio, é uma perda irrecuperável

Tragédia anunciada. Sem possibilidade de reparo. Pesquisas e história de mais de 200 anos em cinzas. Essas são algumas das opiniões dos produtores culturais diante o incêndio no Museu Nacional, no Rio, que teve grande parte do seu acervo queimado na noite de domingo (2).

Emocionado, o presidente do IBRAM (Instituto Brasileiro dos Museus), Marcelo Araújo, acredita que o dano não tem possibilidade de reparação. "É uma perda para a cultura que nunca vai se recuperar. Isso demonstra que precisamos mudar a cultura do país sobre a preservação do país. O que vamos falar para as novas gerações? A sociedade brasileira precisa repensar o país que queremos", disse. 

O incêndio que consumiu o Museu Nacional do Rio destruiu um dos maiores acervos do mundo: perdas ainda não foram calculadas

No ano em que celebra o bicentenário - museu foi inaugurado em 1818 - a instituição conseguiu um contrato com o BNDES de R$ 21,7 milhões para investir na restauração. A expectativa era de que cinco salas fossem reabertas até 2019. Para Washignton Fajardo, arquiteto e ex-presidente do Rio Patrimônio da Humanidade, o maior problema do museu vai além de repasses. "Isso demonstra como nós viramos uma sociedade idiotizada. O patrimônio cultural brasileiro não tem orçamento. O problema da UFRJ não era de orçamento, é de gestão. Precisa demitir esse reitor (Roberto Leher)", disse Fajardo que listou as últimas tragédias de prédios sob cuidados da universidade. "Em 2014, a capela da universidade, localizada na praia Vermelha, pegou fogo. Em 2016, foi a reitoria. A biblioteca da faculdade de arquitetura está fechada após incêndio em 2016. O Colégio Brasileiro de Altos Estudos funciona precariamente e o Canecão (casa de espetáculos), que seria uma forma de captar dinheiro para a universidade, está fechado há 8 anos". 

Entretanto,o coordenador do plano de gestão e conservação do Instituto Bardi, Renato Anelli, tem uma visão contrária. "Estou vendo muita gente que coloca a culpa na universidade, queria ver se a instituição que eles dirigem tivesse um corte de 50% de orçamento, conseguiria fazer uma coisa bem feita". 
Grande parte dos estudos da biodiversidade brasileira está sob guarda de instituições internacionais,segundo o diretor do MAC-USP, Carlos Roberto Ferreira Brandão. Ele diz que esse fato já motivo de muitas críticas. Após o ocorrido com o Museu Nacional, Brandão diz agradecer este fato. "É necessário um reposicionamento para que possamos garantir a guarda física desses acervos". 

Letícia Julião, coordenadora da rede de museus da UFMG, diz que essa é uma situação muito comum dos museus universitários, a precariedade em razão de falta de recursos, que se agravou e deixa esses acervos e essas coleções muito vulneráveis. 
"A gente vai realizar em outubro o 5º Fórum Permanente de Museus Universitários. Ironicamente, a palestra de abertura seria em comemoração dos 200 anos do Museu Nacional. Talvez a gente não tenho muito o que comemorar", diz Julião. 

Museu do Ipiranga em risco 
O incêndio que devastou o Museu Nacional, no Rio, chama atenção para a situação de outra instituição cuja reforma já se arrasta há cinco anos e que também está em risco: o Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga. Ambos mantêm um acervo histórico de valor incalculável e são mantidos por universidades - no caso do museu carioca, pela UFRJ; no paulistano, pela USP. 

O Ipiranga está fechado desde 2013, quando um laudo apontou risco iminente de desabamento do forro e o levou a ser interditado. Algumas das peças do museu - mais de 450 mil obras - foram transferidas para várias unidades; outras, incluindo a famosa tela "Independência ou Morte", de Pedro América, continuam ali, mas estão protegidas. A previsão é que o museu reabra em 2022, no bicentenário da independência do país, ao cabo de uma reforma que deve orbitar em torno de R$ 100 milhões, a serem pagos por recursos públicos e privados. 

Desse valor, o restauro conta em caixa com R$ 3,2 milhões, ou cerca de 3,2% do total, incluindo patrocínio direto e aportes via Lei Rouanet, segundo Solange Ferraz de Lima, diretora da instituição paulista. O projeto ainda está em captação de mais recursos. O orçamento anual do museu paulistano é da casa de R$ 10 milhões - o do carioca é de R$ 520 mil, não repassados desde 2014. A Fusp (Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo) é a responsável por gerir a execução dos recursos da reforma no Ipiranga. Quem desenvolve a parte arquitetônica é o escritório paulistano H+F, que já desenvolveu o projeto executivo. A obra em si deve começar no início de 2019

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