sábado, 24 de dezembro de 2016

ÁRVORE SOLITÁRIA GRITA POR SOCORRO !....

DANIEL STEIDLE


ESSA CANAFÍSTULA CENTENÁRIA CONTA HISTÓRIAS:

NÃO QUERO MORRER SOZINHA


"Continuo em pé! Nasci dentro da mata fechada faz muito tempo. Convivi com índios e bichos. Já era crescida quando sons estranhos foram ouvidos na floresta. Era o barulho dos machados seguidos pelo som do tombo de uma árvore. O barulho chegou cada vez mais perto. Árvores vizinhas foram derrubadas. Fiquei quase sozinha aguardando minha sorte. Não sei porque esqueceram de mim, fiquei de pé. As árvores tombadas secaram e um dia o fogo tomou conta de tudo. Fiquei chamuscada, mas sobrevivi.
Um pasto se formou em volta de mim. Nos dias quentes os bois descansavam na minha sombra. No pasto se via aqui e ali outras sobreviventes da floresta.
Certo dia outro som estranho, moto serras derrubando minhas companheiras. O pasto ia ser transformado num campo de cana. Eu estava na beira do campo. Debaixo de mim a discussão: o homem com a moto serra queria me derrubar, uma mulher insistia que eu devia ficar em pé. A mulher ganhou a discussão. Continuo em pé!
Ano após ano fui novamente chamuscada, essa vez pelas queimadas de cana. O tempo da cana passou, agora tenho em volta de mim lavoura branca – assim são chamadas as plantações de soja, milho e trigo aqui na região de Rolândia. Minha sombra é muito procurada por todos que precisam de descanso nas pausas do trabalho.
Estou muito sozinha, mas me acostumei a não ter companheiras adultas. Fico feliz de ver bem mais adiante, lá embaixo na mata ciliar, minhas filhas, netas, bisnetas e tataranetas crescendo. Espero que ainda por muitos anos o vento e a chuva possam levar minhas sementes e que minha família aumente. Sou conhecida pelo nome de Canafístula. Ficaria contente com sua visita!" 
(Fazenda Bimini, abril, 2000)

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