MARIO FRAGOSO
Recorrências... Frio que não cessa...
O que aconteceu naquela noite-madrugada, está sob a guarda das teias de aranha do esquecimento. O amanhecer é que ficou grudado na esburacada memória. Auxiliar de contabilidade na Colorado – Indústria e Comércio de Rações, na verdade uma rede de postos de venda das Rações Socyl, gozava do privilégio de ir pro trabalho de carona com o “Azeitona”, vulgo Moacir Dalmazzo, gerente da empresa.
O veículo não era grande coisa, uma Kombi Azul Marinho personalizada com o vermelho e branco da Socyl, mas era melhor que enfrentar o ônibus lotado. E ainda economizava uns trocados, úteis nas quermesses da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, onde nos embriagávamos domingo à noite, única forma de encarar a segunda-feira inadiável, inexorável, irrevogável segunda.
Morava no Jardim Castelo, rua Ceará, 171. O “Azeitona”, na avenida Simon Bolivar, Parque Oriente, alguns quarteirões na direção da Vila Yara. Ou será Iara? Ainda estava debaixo das cobertas quando o atacante do time de futsal da empresa, que não fazia gols por correr em quadra feito boi no pasto, cabeça baixa, fez soar a buzina do utilitário. Abri a janela com cara de sono e vi o ítalo-brasileiro parecendo ter saído de uma festa.
Vem logo, você precisa ver uma coisa, me disse. Imaginei que o “Azeitona” devia estar bêbado pra estar tão alegre numa manhã tão fria. Gelada. Vesti o casaco mais pesado que havia no guarda-roupa e saí. Entrei na Kombi e fiquei olhando pro Moacir. Pra ver se, de fato, ele estava sóbrio. Pra piorar, ao invés de pegar o rumo do Centro, ele foi em direção ao Jardim Ideal, Parque Waldemar Hauer. Logo entendi a rota escolhida.
Com os bairros ainda em formação, o que não faltava era rua esburacada, empoçada pelas águas das últimas chuvas. Quando encontrou uma poça d’água de bom tamanho, arremeteu sobre a mesma, puxou o freio de mão e deixou a Kombi deslizar no gelo que se formara durante a madrugada do dia 18 de julho de 1975. Depois, fomos pra zona rural e vimos os cafezais cobertos de branco. Um belo espetáculo.
Na sequência, vi com estes olhos de cataratas que a Terra há de comer, o triste, tétrico, trágico espetáculo dos cafezais ressequidos. Esqueletos cujas folhas, flores e frutos haviam sido incinerados pela geada negra, que até então não sabia existir. O que sei é que logo em seguida a Colorado fechou as portas, mas não foi por causa da geada. Foi porque os sócios saíram no tapa por discordarem da conta de óleo lubrificante no posto.
PS - escrevi este texto ontem, Nilson Monteiro, mas resolvi compartilhá-lo hoje após ver o vídeo em que você fala da manchete do Jornal Panorama do dia 18 de julho de 1975. Suspeito que o Fusca da segunda foto seja da Folha de Londrina...
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