sábado, 28 de maio de 2016

Minha infância

FOLHA DE LONDRINA RURAL

"Permanecíamos ali até o esconder do sol, atrás das montanhas. E ai voltávamos para casa"

 

Lembro-me ainda dos tempos de criança, na fazenda dos meus avós, onde eu e meus primos vivíamos a contemplar a natureza. Aqueles verdes campos, as matas, os rios e cachoeiras, que jorravam águas cristalinas. 
Ah, quantas brincadeiras. Nas mangueiras do pomar, um balanço era improvisado com um pedaço de corda velha. No rio, canoas feitas do tronco de bananeiras eram a alegria da criançada nas tardes quentes de verão. O mergulho era na lagoa ao fundo da cachoeira, no descer das águas. Uma peneira de arame que era usada na colheita do café pelos nossos tios era aproveitada na pesca de lambaris nas barrancas da lagoa próxima à cachoeira. 
Brinquedos não existiam naquela época. Só o carrinho de madeira bruta, construído com muito trabalho pelos meninos. Era com o que eles brincavam na descida perto do rio. O futebol era jogado com uma bola feita de meias, na sombra das árvores. 
As meninas brincavam de casinha. Improvisavam fogõezinhos com pedaços de tijolos e assim preparavam a comidinha que era sempre arroz com milho cozido, colhido ali mesmo, no quintal. 
Quando chovia, as brincadeiras eram diferentes. Num pequeno rancho coberto de sapé, construído pelos nosso tios, nos reuníamos para saborear os frutos frescos colhidos do pomar. Mangas, laranjas, pitangas, jatobás, jenipapos, bananas, abacates e até coco de macaúba. Permanecíamos ali até o esconder do sol, atrás das montanhas. E ai voltávamos para casa. 
De manhã acordávamos e íamos até o curral tomar leite quentinho. E depois íamos para a escola. Enfrentávamos o tempo chuvoso, o frio das manhãs e o orvalho do capinzeiro a pé, por longa caminhada até o povoado. Assim estudávamos. Mas nada era difícil, o prazer era maior que tudo. Bons tempos os que vivemos. 
Hoje tudo é diferente. A natureza está cada vez mais agredida pelo próprio homem, as matas estão sendo devastadas. Os espaços de grandes quintais estão sendo substituídos por altos muros e cercas elétricas para, assim, garantir a segurança das famílias. As crianças não desfrutam de brincadeiras com liberdade. Até nos parques de diversões as crianças brincam vigiadas por pessoas da família. 
A maioria das crianças vive fechada em apartamentos onde só brincam com seus brinquedos eletrônicos de última geração. Isso é o que chama de infância hoje em dia. 

Maria Rosa Montrezoro é leitora da FOLHA

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